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quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O tucano


Ilustração: Guilherme Arruda
 

Disseram que lá tinha tucanos. E a menina queria ver um tucano, aquele pássaro bonito, com um bicão. Onde será que ele estava?
A menina andava olhando para todos os lados, todas as árvores, como que observando. Mas ela procurava o tucano.
O sol vinha e ia, iluminava as águas do rio, tornando-as douradas. O mato mexia, balançado pelo vento. Nas mangueiras, muitos pássaros cantavam. Novamente se preparavam para ir dormir, e mais um dia se passava sem a presença do tucano.
A menina iria embora logo. Não queria partir sem vê-lo.
No último dia, então, ela foi caminhar. O sol se punha, a estrada de terra batida, ladeada por fileiras de coqueiros, subia, e chegaria onde?
O dia estava naquele momento suspenso, não é dia, não é noite, e a luz, partindo, mas ainda ali, é sublime.
A menina foi subindo, buscando. Mas o tucano não dava as caras. Um grupo de passarinhos amarelos pulava e cantava na cerca de arame. A menina perguntou:
- Passarinhos amarelos, onde está o tucano?
- Ele não veio, hoje, menina.
- Vão, busquem, chamem-no!
Os passarinhos amarelos voaram, e encontraram o tucano lá longe, no canto dele.
- Venha, tucano, vamos lá!
- Não, respondeu o impassível tucano. – Não hoje, não lá. E voou para mais longe, onde ninguém poderia encontrá-lo.
Os passarinhos amarelos retornaram, pesarosos, até a menina.
- Ele não vem hoje, não aqui, disseram.
A menina olhou, lá de cima, o campo e o rio iluminados. Virou nos pés e fez o caminho de volta.
Quando a estrada terminava, ela viu os anus negros, que a encaravam desconfiados. A menina passou quieta, se foi, e os anus, negros, gritaram, cantando:
- Lá vai o tucano, lá vai o tucano...